terça-feira, julho 29, 2008

Obama-mania na Europa



E já agora uma análise do Economista Comportamental, e autor do livro Predictably Irrational, Dan Ariely sobre a oferta, feita há uns meses atrás por Hillary a Obama para este se tornar seu vice-presidente... Hillary...ante!

domingo, julho 13, 2008

Predictably Irrational - O Blog

Além do sucesso do seu livro - Predictably Irrational - o blog do Prof. Dan Ariely, Professor de Behavioral Economics no M.I.T., figura já entre os mais influentes blogs do mundo na área de Economia. Por exemplo, figura em 26º lugar neste ranking de blogs de Economia. Não sei como é calculado nem qual a validade deste ranking. Sei que conheço e frequento alguns destes blogs (por exemplo o de Greg Mankiw, o Overcoming Bias e o Becker-Posner) e gosto bastante de todos... O Predictably Irrational, no entanto, é neste momento um dos meus favoritos....

NC

domingo, julho 06, 2008

Aversão à Incerteza

Não foi há muito tempo que a revista Exame lançou a Edição Especial 2008 "Portugal em Exame - Caminhos para Portugal". Nesta edição ilustres personalidades do panorama económico, científico e político português pronunciaram-se sobre as estratégias que o país pode e deve seguir para se tornar mais competitivo e melhorar o seu desempenho. Dois factores foram sublinhados por grande parte dos intervenientes: (1) o excesso de peso do Estado em Portugal e (2) um certo conservadorismo e aversão ao risco que caracterizam a população em geral e que têm contribuído para uma certa falta de dinâmica que seria desejável na economia nacional. Passo a transcrever três citações que ilustram este sentimento:

"O problema está na política económica que reforça o 'status quo'"
António Borges, professor na Universidade Católica

"Há uma certa aversão ao risco. Devíamos ter um espírito mais empreendedor"
António Horta Osório, CEO da Abbey International e Presidente do C.A. do Santander Totta

"Portugal tem o desafio de terminar com os preconceitos e paradigmas que limitam a criatividade e o arrojo"Filipe Vila Nova, presidente da Irmãos Vila Nova

Parece de facto faltar algum arrojo para, nomeadamente, abrir negócios ou fazê-los crescer numa perspectiva global. Em boa verdade, na minha humilde opinião, sinto que falta também algum carinho e respeito, por parte da sociedade, pela profissão do empresário.

Joseph Alois Schumpeter (1883-1950), um dos grandes Economistas de todos os tempos, defendia que o empresário é a figura central num sistema económico moderno (e capitalista). É ele o responsável máximo pela prosperidade, ao criar concorrência, perturbar o status quo, gerar inovação, renovação do tecido empresarial e, desta forma, garantir o crescimento e a vitalidade da Economia...

A Disnatia de Aviz e a Escola de Sagres - Geração Arrojada

Foi este espírito empreendedor que caracterizou a fabulosa dinastia de Aviz e levou D. João I e o Infante D. Henrique a tornarem Portugal num verdadeiro pioneiro da globalização.

Hoje em dia ainda existem certamente muitos Infantes D. Henrique no nosso país. No entanto, parece que os "velhos do restelo" têm elevado a sua voz de forma mais convincente do que no passado... conseguindo conter a garra e ímpeto destes novos descobridores (levando alguns a, infelizmente, navegarem para outros reinos). Apesar de não ter ganho o concurso "maior português de todos os tempos", assim merecia, na minha opinião, o Infante D. Henrique ou o seu pai... Ele foi capaz de criar uma dinâmica de arrojo em torno da mítica e lendária Escola de Sagres, igonorando (felizmente) as vozes da reacção...



Mas um velho d'aspeito venerando,
Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos em nós os olhos, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós no mar ouvimos claramente,
C'um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:

- "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça
Desta vaidade, a quem chamamos Fama!
Ó fraudulento gosto, que se atiça
C'uma aura popular, que honra se chama!
Que castigo tamanho e que justiça
Fazes no peito vão que muito te ama!
Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!


Os Lusíadas, Canto IV, 94-95 (sobre o Velho do Restelo)

Risco ou Incerteza?

No entanto o grande problema de Portugal não me paree ser a aversão ao risco mas, antes, uma aversão exagerada a situações incertas. A diferença parece teórica, admito. No entanto penso ser importante esta distinção para percebemos como tomamos as nossas decisões e o que pode ser feito para, por exemplo, fomentar o empreendedorismo.

Enquanto risco é quantificável (por exemplo tenho uma hipótese em 6,000,000 de ganhar o totoloto) a incerteza é inerentemente difusa - é um sentimento de ambiguidade, uma incapacidade de quantificar os riscos associados com determinada decisão. É desta ambiguidade que os Portugueses fogem e não tanto do risco, senão vejamos.

Portugal é o segundo país mais avesso à incerteza...

Geert Hofstede é um influente sociólogo Holandês que, nos anos 70 e 80 inquiriu colaboradores da empresa IBM em 53 países diferentes e classificou as diferenças culturais entre os países de acordo com 4 dimensões:

- distância ao poder - até que ponto os cidadãos aceitam uma distribuição desigual do poder e hierarquias claras
- individualismo/colectivismo - até que ponto os cidadãos estabelecem laços fortes ou fracos entre si (isto é qual o papel de grupos sociais, da família...)
- masculinidade - até que ponto o papel de ambos os sexos é distinto e os valores masculinos (carreira, dinheiro) prevalecem sobre valores tradicionalmente mais femininos (objectivos sociais, valor dado aos relacionamentos,...)
- medo da incerteza - até que ponto os cidadãos se sentem ameaçados pelo desconhecido

Mais tarde a amostra foi extendida para 70 países, ínumeros estudos de replicação foram feitos desde então e uma quinta dimensão cultural - orientação para o longo vs. curto prazo - foi adicionada.

Em todas estas dimensões Portugal destaca-se pela sua pontuação em termos de aversão à incerteza. Com uma pontuação de 104, Portugal é o segundo país da amostra com maior aversão à incerteza (o primeiro é a Grécia, o terceiro a Guatemala) [ver ranking aqui].

No entanto, infelizmente, isto não significa que os Portugueses não gostam de arriscar. Pensemos nos hábitos de condução. Pensemos nas apostas feitas em lotarias e totolotos. Aparentemente fugimos frequentemente do incerto mas não do improvável.

Por exemplo, retirei este excerto do Expresso das Nove, um jornal Açoriano, que demonstra bem como até arriscamos se calhar em demasia:



"a nível europeu, Portugal lidera, a par da França, o ranking de vendas semanais, assumindo um lugar de destaque perante os outros países que participam no jogo(...)" (ver notícia aqui).

O "jogo" referido na notícia é o Euromilhões, cuja probabilidade de ganhar é, como todos sabemos, muito baixa. Vale a pena recordar ainda que com 10 milhões de habitantes, Portugal tem uma população quase 6.5 vezes inferior à da França!

Importa, então, perceber qual a verdadeira origem de um comportamento padrão tão avesso à incerteza e tentar mudá-lo no sentido de corrermos os riscos certos, aqueles que contribuirão para uma maior prosperidade.

O que fazer?

Segundo Hofstede, pessoas provenientes de uma cultura com muita aversão à incerteza tenderão a procurar estrutra nas organizações, instituições e relações de modo a tornar os acontecimentos mais fáceis de interpretar e prever (podemos por exemplo prever que os Portugueses, quando comparados com cidadãos de países menos avessos à incerteza, tenderão a preferir um emprego estável numa empresa segura em vez de situações mais imprevisíveis - ainda que com promessas de maiores ganhos).

Um dos paradoxos referidos por Hofstede no seu livro "Culture Consequences" parece poder explicar a dicotomia euromilhões-empreendedorismo. Segundo o célebre sociólogo Holandês, se a aversão à incerteza for muito elevada, os cidadãos podem (paradoxalmente) decidir correr riscos exagerados para evitarem essa mesma a incerteza. Ele dá o exemplo da decisão de começar uma luta com um potencial inimigo (arriscando) para acabar com a incerteza do que irá acontecer se esperar...).

Desta forma, a solução para fomentar empreendedorismo em Portugal poderá, por exemplo, passar por transformar a "incerteza" de um novo negócio em risco através de divulgação de taxas de sucesso por sector ou outra informação deste género. Pode também passar por tentar incutir desde cedo nas crianças e jovens estudantes a noção de que em todas as actividades há sempre a necessidade de pesar risco e benefício e que a incerteza é algo inerente a muitos dos desafios do mundo moderno.

Como atrair de volta talentos nacionais?

Por fim, existe hoje uma nova geração de Portugueses que, à semelhança do que já tinha acontecido no passado, enfrentam a incerteza do desconhecido ao decidirem estudar, investigar ou trabalhar noutros países. A garra destes Portugueses não é novidade. O Luxemburgo, por exemplo, com uma percentagem muito grande da população activa com origem Lusitana é um dos países mais produtivos do mundo. A nova geração de emigrantes Portugueses tem a garra das gerações anteriores associada a uma nivel de qualificação médio mais elevado, uma fórmula de sucesso. De facto, muitos destes novos expatriados são verdadeiros talentos nas suas áreas profissionais. E uma parte destes estão disponíveis e interessados em regressar a Portugal mais cedo ou mais tarde - ver por exemplo os resultados de um inquérito feito pela Jason Associates ao "talento expatriado nacional" [aqui].

É preciso saber aproveitar o capital humano que representa esta geração de jovens que não se conformou com o desemprego, com salários baixos e procurou novas oportunidades... O desafio é demonstrar-lhes que podem continuar a batalhar pelos seus sonhos em Portugal, que o país os acolhe de braços abertos (e não com inveja e desconfiança) e lhes oferece condições para regressarem a casa e, a partir de uma nova Sagres, colocarem Portugal de novo numa dinâmica de progresso e prosperidade!