quarta-feira, novembro 28, 2007

Dimensao social e ambiental de Bem-estar

Este vídeo, produzido pela Comissão Europeia, ilustra de forma clara o último ponto no post anterior. As ideias de Daniel Kahneman e Richard Layard (entre muitos outros) estão a começar a produzir efeitos ao nível da política económica e social, pelo menos na União Europeia:

Como medir bem-estar subjectivo?

Tinha colocado este vídeo como "referência interessante" no post desta semana acerca de Felicidade e Economia. No entanto, penso que responde a muitas das questões que o post anterior levanta e, portanto, achei importante colocá-lo aqui também:



É importante também salientar que:

1 - Apesar do título, potencialmente controverso, do post Felicidade e Economia, as medidas subjectivas de bem-estar não pretendem substituir mas antes complementar as medidas mais objectivas existentes

e...

2 - Ainda que correctamente medidas (em termos de validade das questões, representatividade da amostra, qualidade do inquérito) estas medidas não cobrem todas as dimensões importantes do bem-estar. Por exemplo, a qualidade do ambiente, as perspectivas que se criam hoje para o médio/longo-prazo (em termos de saúde,, educação, ambiente, capacidade apra continuar a crescer...) são componentes muito importantes que, ainda que não tenham um impacto imediato nas respostas dos cidadãos a estas questões, devem ter um papel importante nas políticas económicas e sociais.

Referência essencial:

  • Daniel Kahneman e Alan Krueger (2006), "Developments in the Measurement of Subjective Well-Being," Journal of Economic Perspectives, 20 (1), Winter, p. 3-24

    --> Nota: na tabela 2 deste artigo os autores reproduzem os resultados de um estudo que fizeram à satisfação/felicidade de 909 mulheres do Texas com diversas actividades do dia-a-dia. A actividade que maior felicidade conferia às texanas era "relações íntimas", ou seja sexo! No entanto outros factos inesperados e interessantes incluem a baixíssima satisfação reportada associada a "cuidar dos filhos", o facto de "fazer compras" contribuir menos para o bem-estar destas mulheres que "socializar no trabalho" e "utilizar o computador (em casa)" estar associado com menor satisfação do que "cozinhar" e a um nível pouco mais elevado do que "trabalhos em casa"... No artigo referido aqui os autores discutem algumas razões para estas descobertas e potenciais enviesamentos que podem ser introduzidos pelos inquéritos. Apresentam ainda um método, o day reconstruction method que visa fornecer um retrato mais objectivo da felicidade e minimizar estes enviesamentos. Outras alternativas para minimizar enviesamentos podem passar por preparar cuidadosamente os inquéritos e utilizar métodos de correcção que permitam obter respostas verdadeiras - ver por exemplo:

  • Drazen Prelec (2004) "A Bayesian Truth Serum for Subjective Data," Science, Vol. 306. no. 5695, pp. 462 - 466.
  • terça-feira, novembro 27, 2007

    Seminário de Barry Schwartz acerca do paradoxo do excesso de escolha



    Um interessante seminário de Barry Schwartz, autor do livro "Paradox of Choice" acerca dos efeitos negativos do excesso de escolha, um tópico já discutido no 'Excesso de escolha - Um paradoxo recente' (Maio 2006) e no post 'Preferências intertemporais e excesso de escolha' (Maio 2006). Já escrevi bastante, portanto, sobre este tópico não só aqui como também no blog CienciaMKT, onde num post recente voltei a referir-me a importantes excepções onde mais escolha significa maior utilidade e satisfação para os consumidores. Espero que a blogosfera seja uma das importantes excepções... :D!

    domingo, novembro 25, 2007

    Economia da Felicidade - Abolindo o PIB?

    A Economia durante o séc. XX parece ter criado um grande paradoxo - enquanto o objectivo principal de grande parte da política económica tem sido promover o crescimento e aumentar o rendimento dos países, naqueles países que já tinham atingido um nível razoável de rendimento, as populações aparentemente não ficaram mais felizes por isso. Pelo contrário, quando comparadas com a situação de há 50 anos, nas sociedades do chamado "primeiro mundo" mais pessoas sofrem hoje de depressão, alcoolismo e são vítimas de crime (ver por exemplo a informação e referências recolhidas e sintetizadas por Richard Layard, autor do livro "Happiness - Lessons from a new science", aqui).

    Após anos e anos de discussão entre economistas, psicólogos e políticos algumas razões para este paradoxo parecem emergir. A conclusão principal é de que precisamos de medidas subjectivas de bem-estar e felicidade e de políticas que as tomem em consideração. As críticas às medidas tradicionais, de cariz mais objectivo mas algo dissociadas das percepções subjectivas de bem-estar das populações, levam alguns autores a sugerir que o melhor seria, em termos de medirmos correctamente o bem-estar de uma sociedade, simplesmente abolir o PIB , ou seja deixarmos de o utilizar como indicador primordial de prosperidade de um país (o que não quer de todo sugerir que deixemos de criar riqueza)!

    A fortalecer este "movimento" estão desenvolvimentos recentes na Psicologia, onde nomes como Martin Seligman se notabilizaram por tentarem dar um impulso à Psicologia Positiva. No fundo a ideia passa por defendermos que não basta, aos psicólogos, entender como tratar uma pessoa que está, em termos de bem-estar, num estado negativo trazendo-a para um estado de bem-estar neutro. É preciso, cada vez mais, saber como aumentar o bem-estar dos cidadãos e contribuir para um verdadeiro crescimento do bem-estar.

    Mas a ideia é já levada muito a sério por economistas. Economistas comportamentais como George Loewenstein (professor na Carnegie Mellon University de Economia e Psicologia) ou Daniel Kahneman (professor de psicologia em Princeton e prémio Nobel da Economia em 2002 têm sido unânimes
    na necessidade de voltarmos a encarar a utilidade como um conceito hedónico, isto é como um prazer psicológico, regressando a uma definição de utilidade já defendida no séc. XIX pelo filósofo Britânico Jeremy Bentham. Uma consequência directa deste regresso Bentham e da rejeição de que os agentes económicos tomam decisões apenas motivados por incentivos privados (isto é, a ideia de que os seres humanos são naturalmente egoístas) criou a a necessidade de medirmos e basearmos decisões económicas em conceitos subjectivos de bem-estar.



    Daniel McFadden (professor de Economia na Universidade de Berkeley e laureado com o prémio Nobel da Economia em 2000), numa aula que deu em 2005 no Econometric Society World Congress em Londres concluía que é necessário incorporar noções de altruísmo, normas sociais e culturais e mesmo estudar o cérebro humano por forma a descobrirmos as origens das nossas escolhas.

    O Economista Richard Layard, da London School of Economics, também concorda que o fim último da política económica (e social) deve ser tornar a população mais feliz, o que implica termos de medir a felicidade. Num livro beilhante que publicou em 2005 - Happiness: Lessons from a New Science - Layard sintetiza os fundamentos desta nova ciência (multi-disciplinar, felizmente!!) da felicidade e os factos referidos na introdução deste post. Layard também descreve as mais recentes formas de medir, de uma forma tão objectiva quanto possível, quão felizes são os cidadãos.

    Não creio que devamos abolir medidas objectivas de riqueza e "bem-estar económico" como o PIB ou produtividade. No entanto, quando até economistas como Alan Greenspan e Alan Krueger defendem que percepções e o bem estar subjectivo dos agentes nos podem ajudar muito a prever a evolução económica, parece uma boa ideia recolher estas medidas, ainda que subjectivas, de forma regular para complementarmos as nossas análises económicas com as preferências da sociedade e dos cidadãos. Acima de tudo, ainda temos muito para compreender nesta nova "ciência" da felicidade. Mas é preciso deitar mãos à obra e criar teorias, descobrir padrões empíricos e criar conhecimento capaz de ajudar na tomada de decisões políticas que satisfaçam as necessidades e valores da população.

    Algumas referências interessantes:


  • Gallup's World Poll - Bem-estar parte 1 - Como medir bem-estar subjectivo? (3 min.)
  • Gallup's World Poll - Bem-estar parte 2 - Felicidade e Economia (3 min.)
  • Gallup's World Poll - Bem-estar parte 3 - Porquê o bem-estar subjectivo? (3 min.)

  • Gallup - Novos indicadores económicos (3 min.)

  • Gallup - Satisfação dos Americanos - a mais baixa desde 1992 (3 min.)


  • Gallup's World Poll - Alan Greenspan acerca da importância de utilizar indicadores subjectivos de bem-estar para prever a evolução da economia (3 min.)
  • Aula do Prof. Daniel Kahneman acerca de Felicidade e da importância de a estudarmos e a relacionarmos com política pública (59 min.)
  • Veenhoven (2004), "The greatest happiness principle. Happiness as a public policy aim," in: Linley, P.A. & Joseph, S. (eds.), Positive psychology in practice, cap. 39, Edição: John Wiley, Hoboken, NJ, USA, ISBN 0471459062
  • Homepage de Ruut Veenhoven
  • Gallup's World Poll - Alan Greenspan acerca da importância de utilizar indicadores subjectivos de bem-estar para prever a evolução da economia